Dados globais mais recentes colocam o país como o mais violento contra professores, porém estudiosos do tema apontam que faltam levantamentos internos que promovam o diagnóstico do problema.
Uma pesquisa feita em 2015 pelo
Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) apontou que 44% dos docentes
que atuavam no estado disseram já ter sofrido algum tipo de agressão.
Entre as agressões que 84% dos professores afirmam já ter presenciado, 74%
falam em agressão verbal, 60% em bullying, 53% em vandalismo e 52% em agressão
física.
Para a socióloga Miriam Abramovay,
especialista em violências nas escolas e juventudes, é significativa a falta de
dados sobre o tema. "Praticamente nunca foi feita nenhuma pesquisa
específica só com os professores. Isso mostra que o tema não é prioritário,
como se a violência não tivesse impacto no ensino, no aprendizado e no
cotidiano da escola", afirma.
Uma pesquisa global da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com mais de 100 mil
professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do
ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) põe o Brasil no topo de um ranking de
violência em escolas. O levantamento é o mais importante do tipo e considera
dados de 2013.
Na enquete da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12,5% dos
professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de
intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.
Trata-se do índice mais alto entre os
34 países pesquisados - a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a
Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%.
Na Coreia do Sul, na Malásia e na
Romênia, o índice é zero.
Impunidade
A pesquisadora Rosemeyre de Oliveira,
da PUC-SP, atribui a violência nas escolas à impunidade dos estudantes. “O
aluno que agride o professor sabe que vai ser aprovado. Pode ser transferido de
colégio - às vezes é apenas suspenso por oito dias”, diz. “Os regimentos
escolares não costumam sequer prever esse tipo de crime. Aí, quando ele ocorre,
nada acontece.”
Para as vítimas, no entanto, as consequências
costumam ser severas. Rosemeyre investiga o trabalho dos professores
readaptados – aqueles que foram afastados da sala de aula e reinseridos em
outra atividade escolar, como na secretaria ou na biblioteca. “A maior parte
precisa deixar de atuar nas classes porque tem estresse pós-traumático. Há
docentes que foram baleados por alunos, agredidos ou ameaçados”, explica.
“Quando assumem outras funções, as vítimas são vistas com preconceito até pelos
próprios colegas.”
Rosemeyre, inclusive, é professora
readaptada em um colégio estadual da periferia de São Paulo. Ela deixou de
atuar em sala de aula quando foi ameaçada, em 2009, por um aluno de ensino
médio que estava armado. “Tentei voltar para o trabalho várias vezes, mas não
conseguia. É progressivo. Sofria antes de ir à escola. Era afastada pela
psiquiatra, a licença terminava e eu não me sentia capaz de retomar o trabalho.
Até que desisti. Fui readaptada em 2012. Hoje, trabalho na secretaria”, conta.
“A vítima se sente cada vez mais excluída. Eu ainda direcionei isso para a
pesquisa acadêmica, para mostrar pelo que a gente passa.”
Violências na
escola
Para a socióloga Miriam Abramovay,
especialista em violências nas escolas e juventudes, o que ocorre nas escolas
deve ser sempre avaliado no plural: violências. Miram foi uma das coordenadoras
de um estudo da Unesco em 2002 que avaliou diferentes manifestações do
problema.
Ela lembra que as pesquisas mostram
que o aluno muitas vezes também é vítima. "A escola exerce uma violência
institucional muito forte sobre seus alunos e professores", lembra. Com
pesquisas atualmente em andamento no Rio Grande do Sul e no Ceará, ela lembra
que muitas vezes o alunos se torna rebelde e agressivo por não se sentir donos
do espaços. "Não conseguem participar", afirma.
Sem fazer juízos sobre o caso
específico em Santa Catarina, ela lembra que os levantamentos apontam que um
dos principais gatilhos para a violência contra as professoras e os professores
está justamente no momento em que um aluno é retirado de sala de aula. "Em
geral, você cria situações limites que não precisavam ser criadas. Tem que
redescutir, para ver como se pode viver melhor", diz a pesquisadora,
novamente fazendo a ressalva de que não está analisando o caso específico de
Santa Catarina.
"Geração
cristal" + "Síndrome do imperador"
A colunista do G1 e
especialista em educação, Andrea Ramal, lembra uma declaração da professora
agredida em Santa Catarina para refletir sobre o papel dos pais e da sociedade
na proteção do professor. Em seu depoimento, a professora escreveu: “Esta é a
geração de cristal: de quem não se pode cobrar nada, que não tem noção de
nada”.
"A análise (da professora) é
coerente com alertas de psicólogos contemporâneos que defendem que os pais
estão outorgando poder demais para os filhos. Não estabelecer limites, quase
nunca dizer “não” e fazer todas as vontades de crianças e adolescentes são
ingredientes-bomba. Derivam na “síndrome do imperador”, um comportamento
disfuncional em que os filhos estabelecem suas exigências e caprichos sobre a
autoridade dos pais, controlando-os psicologicamente e podendo chegar, não
raro, a agressões físicas", afirma Ramal.
Fonte: https://g1.globo.com/educacao/noticia/brasil-e-1-no-ranking-da-violencia-contra-professores-entenda-os-dados-e-o-que-se-sabe-sobre-o-tema.ghtml
Atenção!!! Assista ao vídeo: Violência contra professores(as)
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema: desafios para combater a violência contra professores no Brasil.
Se escrever na modalidade ENEM, lembre-se de apresentar proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.
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