terça-feira, 15 de março de 2022

Tema 279: Mudanças climáticas e direitos humanos

 

Considere, abaixo, parte da entrevista da ex-presidente da Irlanda e Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson, publicada no Jornal Valor Econômico, em 2016, e aqui reproduzida a partir do site https://www.fronteiras.com/. Nessa entrevista, a ex-presidente aborda o tema Mudanças climáticas e direitos humanos”.

Por que as mudanças climáticas são uma questão de direitos humanos?

M.R.: Porque estão corroendo uma série de direitos, particularmente os sociais. Direito à alimentação, à água. E também estão corroendo a saúde, tirando as pessoas de seus lugares. Existe uma grande injustiça nas mudanças climáticas, porque afetam comunidades pobres e países pobres que não são responsáveis pelas emissões de gases.

Por que o maior impacto sobre as pessoas pobres não ganha evidência?

M.R.: Acho que as pessoas não têm uma compreensão completa em relação a isso. E também não se sentem suficientemente responsáveis. Temos que trazer à luz a injustiça da mudança climática e torná-la mais visível. [...] E o aspecto financeiro? Nem todos concordam em financiar as mudanças necessárias.

M.R.: Precisamos ver as finanças climáticas como uma forma de deixar o mundo mais seguro para todos, fornecendo tecnologia e investimentos aos países em desenvolvimento para uma transição bem rápida para a energia renovável. [...] Governos e líderes empresariais parecem muitas vezes mais interessados no aspecto econômico.

Como incluir as pessoas nas soluções?

M.R.: Foi por isso que criei minha fundação, que é voltada à justiça climática. Precisamos colocar as pessoas no centro de todas as ações relacionadas ao clima, ou iremos cometer erros. Por exemplo, em 2007, 2008, havia um grande movimento para transformar o milho em etanol nos Estados Unidos. Isso fez com que os preços de alimentos subissem e foi muito ruim para as comunidades pobres. Tenho ouvido cada vez mais sobre grandes projetos, grandes hidrelétricas, florestamento que tentam ser positivos para o clima, mas não são bons para os pequenos proprietários de terra, atropelam os direitos dos povos indígenas, das pessoas pobres. Isso não é aceitável.

Como a senhora vê os direitos humanos atualmente?

M.R.: É difícil responder globalmente. Há uma preocupação com o que é descrito como o fechamento de espaço para ação da sociedade civil. Em outras palavras, é mais difícil para a sociedade civil ser influente. A chamada guerra contra o terror tem feito até protestos legítimos serem caracterizados como terrorismo. E há um grande movimento para proibir ou reduzir a ação das ONGs. Muitos países estão suspendendo o financiamento externo para as organizações não governamentais. E se não conseguem recursos do exterior é muito mais difícil para elas financiarem suas atividades que são responsabilizar os governos pela garantia de direitos humanos... É um grande problema, há muitos mais. [...]

As mudanças climáticas podem gerar refugiados do clima?

M.R.: Tenho certeza de que veremos o clima como fator de deslocamento das pessoas, porque estão sofrendo com secas severas, inundações severas. Há estimativas de que em 2050 poderemos ter algo entre 50 e 200 milhões de refugiados do clima. Nem podemos chamá-los de refugiados, porque eles não têm esse status.

Como a senhora vê a atual situação?

M.R.: Falamos sobre direitos humanos e sobre problemas do clima e isso pode ser deprimente. Esses problemas são muito sérios. Acredito que existem duas formas de olhar para isso. Uma é ver o quanto isso é ruim e descrever o quanto isso é ruim. E tudo fica muito negativo, não há energia, não há oxigênio para fazer nada. A outra é ver que a situação é difícil, mas que há pessoas corajosas lutando contra isso e que podemos tentar ajudá-las.

Eu sempre pego emprestada uma expressão do meu amigo arcebispo Desmond Tutu. Estivemos em um painel em Nova Iorque, há alguns anos, com pessoas jovens, e ele fica muito entusiasmado quando está com jovens. Havia lá uma jornalista que, de forma até um pouco ríspida, perguntou a ele como se mantinha otimista. E ele respondeu: "Minha cara, não sou um otimista, sou um prisioneiro da esperança". Isso foi profundamente importante para mim. Você precisa ter esperança, que é a energia para fazer mudanças. Adaptado de: https://www.fronteiras.com/entrevistas/mary-robinson-uma-prisioneira-da-esperanca

 

Como você pode perceber, a ex-presidente da Irlanda tem opiniões claras a respeito do impacto que as mudanças climáticas têm na vida das pessoas. Ela, em sua argumentação, apresenta aspectos relativos às mudanças climáticas e à consequente ameaça aos direitos humanos.

A     partir   da  leitura  do   texto motivador  e  com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija  um  texto dissertativo, em modalidade escrita formal da língua portuguesa, sobre este tema:  “Mudanças climáticas e direitos humanos” .   Lembre-se de apresentar  propostas de intervenção que respeitem os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista. Você pode mencionar a ex-presidente da Irlanda, concordando com suas ideias ou refutando seu ponto de vista.

(Prova de redação UFRGS/2022 adaptada por Marileia Marchezan)

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